domingo, 8 de dezembro de 2019

Sebastião da Gama

Em 24 de dezembro de 1943, o Natal voltava a ser motivo de poema de Sebastião da Gama, que, dedicado a uma amiga, assim dizia, em jeito de quem conta uma história: 

Falta só um dia, meninos, ouvi,
para fazer anos que, na Nazaré,
a doce ovelhinha fazia mé-mé,
Jesus, nas palhinhas, fazia chi-chi,
sorria, encantado, o bom S. José.

Jesus foi crescendo: no chão foi dispor
uma árvore bela chamada Verdade,
que tinha por frutos a santa Bondade,
rosados quais peros, de estranho dulçor,
que sempre comê-los só dava vontade.

À sombra tão larga se vinham sentar
os bons caminheiros da estrada da Vida.
E, debaixo de si, a paz tão pedida,
os frutos gostosos, os vinha encontrar
quem perto passava e a via florida.

Vieram as chuvas, vieram os ventos
que, feros, quiseram abaixo deitá-la.
Nem ventos nem chuvas, não vinham quebrá-la
que, sempre aprumada no meio dos rebentos,
 só vinham movê-la, mui pouco vergá-la.

E os frutos gostosos são cada vez mais;
e as folhas de esperança voando mais vão;
e alguma pernada queimada ao fogão
produz luz tão forte, produz chamas tais
 que são claro dia nesta escuridão.

Falta só um dia: Jesus, nas palhinhas,
sorria aos reis magos, sorria a José.
A doce ovelhinha fazia mé-mé
e Deus, a Maria, maior das rainhas,

olhava e sorria lá na Nazaré.

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